Introdução a Farmácia Galénica

1. Introdução à Farmácia Galénica

Organização dos itens

¾   Conceito da Farmácia Galénica

¾   Ramos principais da Farmácia Galénica

¾ Aplicação actual de Farmácia Galénica

¾  ¾ Historia da Evolução da Farmácia Galénica

1.1. Noção de Farmácia Galénica

Os fármacos, nas formas vegetal e mineral, são mais antigos que os próprios homens. A doença e o instinto de sobrevivência do homem, através dos tempos levaram-no à sua descoberta. O uso dos fármacos, ainda que na forma bruta, indubitavelmente data de antes dos primeiros registros históricos, porque o instinto do homem primitivo de aliviar a dor de uma ferida banhando-a em água fria ou sedando-a com uma folha fresca, ou ainda protegendo-a com lama faz parte do domínio das lendas.

1.2. Significado de Farmácia Galénica(1)

O termo Farmácia Galênica representa uma homenagem a Claudius Galenus, médico-farmacêutico que viveu em Roma durante o segundo século da nossa era.

A designação de Farmácia Galênica foi introduzida no século XVI e o conceito que exprimia era muito mais restrito do que o atual. De fato, o termo foi criado para significar a Farmácia dos medicamentos complexos, que se pretendeu opor à Farmácia Química ou ramo farmacêutico que se ocupava da preparação dos medicamentos contendo substâncias quimicamente definidas.

Por medicamento complexo entendia-se o que resultava da transformação dos produtos naturais, chamados drogas, em preparações farmacêuticas constituídas por misturas de componentes susceptíveis de serem administrados aos enfermos.

Se o produto natural, submetido à mencionada transformação, originava uma substância quimicamente definida, o medicamento com ela obtido dizia-se medicamento químico.

Atualmente, à Farmácia Galénica compete a transformação de todas as substâncias medicamentosas em medicamentos, quer aquelas sejam de natureza complexa, quer constituídas por produtos químicos naturais ou sintéticos perfeitamente definidos. Observa-se, assim, que a noção de Farmácia Galênica sofreu uma marcada evolução, tendo-se dilatado acentuadamente o conceito inicial, passando agora à Tecnologia Farmacêutica.

1.2. Ramos principais da Farmácia Galénica

Os dois surgem pelas tendências mais recentes com o fim de se obter maior eficácia terapêutica e segurança de manejo:

1. Biofarmácia, Biofarmacotécnia ou Biogalénica: emprego de organismos obtidos pela engenharia genetica, p.ex: produtos de tecnologias de ADN recombinante(factor VIII), anticorpos monoclonais, insulina humana recombinante.

1.1. Farmacotecnia: uso de meios e métodos tecnológicos para converter drogas medicinais em produtos elaborados, dando-lhes forma adequada para sua boa administração.

2. Farmácia Clínica: desenvolvimento de novos medicamentos e estudo destes para que possam ser aplicados para os seres vivos. Uma vez comercializados, e necessário a avaliação continua da relação risco/benefício, através da:

2.1. Farmacovigilância: competindo-lhe «toda a atividade tendente a obter indicações sistemáticas sobre ligações de causalidade provável entre medicamentos e reacções adversas».

1.3. Aplicação actual de Farmácia Galénica(2)

A principal aplicação consiste na obtenção de medicamentos manipulados. Estes apresentam-se como uma alternativa terapêutica essencial, de modo a poder ajustar o medicamento ao perfil fisiopatológico de um doente com necessidades especificas, como crianças ou idosos e também para especialidades como pediatria, oncologia e dermatologia, para os quais a indústria farmacêutica não consegue dar resposta ou não tem interesse comercial.

Assim, os medicamentos manipulados são um complemento no mercado farmacêutico, conseguindo responder às necessidades individuais e terapêuticas, estando obrigatoriamente sujeitos a legislação em cada país produtor.

Os medicamentos manipulados incluem os preparados oficinais e fórmulas magistrais. Um preparado oficinal é “um medicamento preparado segundo as indicações de uma farmacopeia ou de um formulário numa Farmácia de Oficina ou nos serviços de farmácia hospitalar, que é destinado a ser dispensado diretamente aos doentes assistidos por essa Farmácia ou serviço”. Uma fórmula magistral e "todo o medicamento que é preparado numa Farmácia de Oficina ou nos serviços de farmácia hospitalar, segundo uma receita médica e destinado a um determinado doente.

 

1.4. Evolução da Farmácia Galénica

Desde a era mitológica a hipocrática:

Durante muitos anos a Medicina e a Farmácia constituíram um lodo indissociável em que o mesmo indivíduo, médico-farmacêutico, desempenhava cumulativamente as funções inerentes ao exercício destas duas profissões.

(anos 460 a.C. – 377 a.C.), Hipocrates,grego, foi o primeiro a separar a medicina da superstição.

O termo Farmácia Galénica representa uma homenagem a Claudius Galenus (129-200 d.C.),, médico-farmacêutico que viveu em Roma durante o segundo século da nossa era.

Galeno baseou-se na Medicina hipocrática para criar um sistema de patologia e terapêutica de grande complexidade e coerência interna. Espírito verdadeiramente enciclopédico, sintetizou os conhecimentos farmacêuticos adquiridos até então, atribuindo-se-lhe, também, a concepção de várias formas farmacêuticas. Os seus escritos ficaram célebres e muitas fórmulas por ele idealizadas chegaram até aos nossos dias.

Este realizou numerosas preparações misturando e dissolvendo os ingredientes activos de drogas vegetais, o qual deu origem a estes preparados chamados “fórmulas ou preparações galénicas”.

Nesta época encontramos também o papiro de Ebers. Seu nome é homenagem ao egiptólogo alemão Georg Ebers. Datado aproximadamente entre 1530 a.C. possui 110 páginas e mostra a utilização de plantas medicinais como medicamento, descrevendo um grande repositório de ervas para o tratamento das mais diversas doenças, por exemplo, para asma era recomendado que o doente inalasse uma mistura aquecida de ervas. Este papiro também descreve vários procedimentos médicos, incluindo tratamentos relacionados às doenças neurológicas. Embora estas práticas pareçam evoluídas para a época, estes manuscritos nos mostram que a medicina relacionada a doenças neurológicas possuía um aspecto mitológico e religioso dominante. As principais entidades relacionadas à medicina/cura eram Isis, Sekhemet e Hórus. A eficácia terapêutica não dependia apenas das técnicas e medicações utilizadas, mas também dos rituais mágicos e da intercessão dos deuses para a cura.

Em suma, o considerado o período mágico-religioso (antigo Egipto), Galenus:

  • Sistematizou matérias-primas necessárias à preparação de medicamentos.
  • Descreveu perto de 500 fármacos vegetais e outros de natureza animal e mineral.
  • Estudou as propriedades terapêuticas, classificou-os e sistematizou-os.
  • Preparava medicamentos  em função da teoria dos humores de Hipócrates
  • Utilizou as formas farmacêuticas seguintes: cozimentos, infusões, pastilhas, pílulas, pós, supositórios, linimentos, cosméticos, Colutórios, enemas, cataplasmas, etc.

Idade media (sec V-XV), o Período medieval:

Ao longo do século XVII, a tradição médica de matriz hipocrático-galênica sofreu crescentes críticas de correntes médicas emergentes, em especial a iatroquímica, em grande parte devedora da herança alquímica de Paracelso (1493-1541)

Foram os árabes que fizeram as primeiras tentativas de separação dos dois ramos da arte de curar, havendo, contudo, de início relações de carácter económico entre as duas profissões. Só no século XIII foi proibida a aludida ligação.

Exemplos: Em Portugal a obrigatoriedade dessa separação foi determinada em 1462. • Moçambique não possui dados registados.

São principais marcos deste período:

  • influência do mundo árabe
  • Prática de alquimia e farmácia voltada para o laboratório
  • Surge a arte de preparar os medicamentos em estabelecimento próprio – as boticas
  • Mistura do mágico-religioso na preparação e aplicação dos medicamentos
  • Marcou bastante as descobertas da Farmácia química (Paracelso)
  • E o Final da vigência galénica (Séc. XVIII) com a Revolução química e botânica

Séc. XIX: da arte farmacêutica à ciência farmacêutica

Durante o século XIX, a análise química, a química orgânica e outros ramos da química permitiram obter novos medicamentos e o arsenal terapêutico alargou-se. A seguir apresentamos outras características:

  • Desenvolvimento da fisiologia experimental, da farmacologia experimental e da terapêutica experimental.
  • A farmácia e a preparação dos medicamentos passam a ser sustentadas em bases científicas de acordo com os mais avançados processos de método científico consolidados no século XIX.
  • Surgem diversas inovações farmacêuticas tecnológicas
  • Surgem indústrias farmacêuticas
  • Aparecem novas formas farmacêuticas: comprimidos, injectáveis, melhoria de cápsulas
  • Surgem novos excipientes: vaselina, parafina, etc.

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