ALCOÓLEOS

 Formas farmacêuticas liquidas obtidas por dispersão molecular

3. ALCOÓLEOS (soluções, tinturas e alcoolaturas)

Diz-se alcoóleos às preparações farmacêuticas líquidas, cujo veículo, único ou principal, é o álcool etílico de diversa graduação.

Obtenção

Os alcoóleos obtêm-se por dissolução simples ou extractiva de produtos sintéticos ou naturais, podendo, neste último caso, encontrar-se a droga no estado seco ou ser recente. Alguns alcoóleos contêm ácidos na sua composição, enquanto que outros possuem edulcorantes, como o açúcar, entre os seus constituintes.

Classificação

De acordo com a natureza e propriedades do material utilizado na sua preparação e conforme esta foi conduzida por dissolução simples ou extractiva, assim teremos; diversas espécies de alcoóleos, a saber:

a) Soluções simples/alcoolitos (alcoóleos ácidos; alcoóleos açucarados – elixires; outras soluções alcoólicas)

b) Tinturas

c) Alcoolaturas

Às soluções simples dá-se, também, o nome de alcoolitos, já que o sufixo ito se emprega em farmácia para caracterizar as preparações líquidas obtidas por dissolução total dos fármacos.

Os alcoóleos ácidos, têm, actualmente, um interesse muito relativo, ao contrário dos alcoóleos açucarados denominados, ainda, elixires, cujo emprego sofreu certo incremento, devido à boa conservação e sabor que os fármacos componentes passam a apresentar em solução.

Às tinturas e alcoolaturas, que são obtidas por dissolução extractiva, respectivamente das drogas secas ou recentes, tem-se dado a designação de alcoolados, uma vez que o sufixo ado alude a uma dissolução incompleta.

SOLUÇÕES ALCOÓLICAS SIMPLES

Os alcoóleos simples (alcoolitos) são obtidos por dissolução simples das substâncias. Assim, a cânfora, o sulfato de quinina e muitos outros produtos inteiramente solúveis no álcool de graduação adequada, originam soluções alcoólicas simples.

Preparação

Sendo os alcoolitos obtidos por dissolução total das substâncias, a sua preparação obriga a que se respeitem as regras estabelecidas para aquela operação farmacêutica.

o   Dissolver a substância em álcool

o   Em alguns casos pode auxiliar-se a dissolução com um aquecimento moderado, enquanto que em outros se recorre à utilização de adjuvantes.

o   Filtrar e acondicionar

Formulário

Solução Alcoólica de Cânfora

cânfora natural, ou sintética…………………………100 g

álcool de 85%.............  .  .  .  . ...  . . ..... .. .. .. .. ... . ...900 g

Conhecida ainda por álcool canforado e “por tintura de cânfora”, esta solução prepara-se por dissolução de 100 g de cânfora natural, ou sintética, em 900 g de álcool de 85%. A cânfora presente actua como revulsivo suave e comunica certo poder refrescante à preparação.

A solução alcoólica de cânfora emprega-se, directamente, em fricções, servindo ainda para preparar outros medicamentos. Algumas vezes adiciona-se essência de terebintina ao álccool canforado, obtendo-se uma preparação mais fortemente revulsiva. Neste caso, a fim de evitar a turvação, é conveniente utilizar álcool de 95o.

Solução Alcoólica de Iodo

Designada, correntemente, por “tintura de iodo” é, sem dúvida, um dos anti-sépticos mais vulgarizados entre nós.

Inicialmente, esta solução era preparada por dissolução do iodo no álcool de 85o (10: 120 g) ou de 95° (10: 90 g), tendo figurado vários métodos para a sua obtenção em farmacopeias do fim do século passado ou princípios deste.

Solução Alcoólica de Mentol

Trata-se de uma solução de 2 g de mentol em 98 g de álcool de 95°, que se utiliza, externamente, como antipruriginosa e refrescante.

ALCOÓLEOS AÇUCARADOS/ELIXIRES

Como o seu nome indica, trata-se de soluções alcoólicas medicamentosas edulcoradas com açúcares. São formas farmacêuticas de veículo alcoólico, edulcoradas e destinadas à administração oral. Podem existir outros edulcorantes, além da sacarose, sendo vulgar o emprego da ortossulfimida benzóica (sacarina) e do glicerol.

A graduação alcoólica destas preparações varia entre 15o e 50o, razão por que são dificilmente invadidas por microrganismo.

TINTURAS[1]

São soluções extractivas alcoólicas, obtidas a partir de drogas vegetais, animais e minerai s, no estado seco. Entretanto é vulgar dar-se a mesma designação às soluções extractivas preparadas com outros dissolventes, que não o álcool, como o éter, clorofórmio, acetona, entre outros.

Preparação das tinturas

Na preparação de uma tintura deve atender-se ao estado do fármaco, à escolha do álcool de graduação conveniente e ao método de extracção a eleger.

A relação entre a quantidade de droga e a de álcool ou de tintura é de, 10:100 e 20:100. Para as drogas heróicas (lixiviação) usa-se uma concentração de 10% em relação à tintura. Com as drogas não heróicas (maceração) empregam-se, em regra, 20 g de droga para 100 g de álcool

O dissolvente habitual é o álcool de graduação variável entre 30° e 90°. Como norma, para as drogas ricas em substâncias hidrossolúveis (sais de alcalóides, heterosídeos, taninos, flavonas, etc.) usa-se o álcool de baixa graduação, reservando-se o álcool mais concentrado para as drogas com princípios menos hidrossolúveis (alcalóides base, essências, resinas, bálsamos, etc.).

A F.P. IV estabelece que se preparem:

1. Com álcool de 65°, as tinturas de drogas secas, pouco activas, como a calumba; . .

2. Com álcool de 70o, as tinturas das drogas heróicas[2];

3. Com álcool de 85°, as tinturas contendo sucos concretos, bálsamos e substâncias resinosas.

Método de Extracção

São essencialmente utilizados quatro processos de obtenção das tinturas, que são a:

o   Maceração: 200 g de droga em 1000 g de álcool, durante 10 dias; Obtido o macerado, coa-se espremendo e filtra-se a solução alcoólica.

o   lixiviação. Partindo-se de 100 g de droga procede-se à lixiviação até obter 1000 g de tintura. A droga pulverizada é humedecida com metade do seu peso em álcool, macerada em vaso tapado durante duas horas e, então, passada para o lixiviador que se enche de álcool da forma habitual. Aí, deve macerar-se durante 24 horas ou 48 horas. Submete-se, depois, à deslocação.

o   dissolução do extracto seco correspondente.

o   digestão. Ex. tintura de alcatrão mineral saponinado. É obtida por aquecimento, a banho de água, da tintura de quilaia (800 g) com o alcatrão mineral (200 g), durante l hora.

Ensaio das tinturas

As tinturas apresentam-se sob a forma de líquidos límpidos, possuindo geralmente odor a etanol e gosto e cor determinados pelas características das drogas de onde foram obtidas.

Em alguns casos, turvam ou precipitam por adição de água (tinturas resinosas e balsâmicas, etc.), e quando agitadas com ela podem espumar mais ou menos abundantemente, sendo a espuma incolor ou corada (albuminas, saponinas).

Alterações das tinturas

As tinturas devem conservar-se em frascos de vidro, de rolha esmerilada, e ao abrigo da luz. Efectivamente, durante a armazenagem, e em grande parte por acção da luz, as tinturas vão sofrendo alterações de vária ordem, como precipitações, oxidações, hidrólises e até reacções com os componentes cedidos pelo vidro dos recipientes.

Entre as precipitações são vulgares as dos tanatos de alcalóides, silicatos, sais de cálcio e potássio, gomas, resinas e amidos. O frio favorece esta deposição (diminuição do coeficiente de solubilidade), tomando-se, por vezes, necessário proceder ao aquecimento das preparações que precipitaram.

Formulário das tinturas

Tintura de Casca de Laranja

Preparação: A 20 %, com álcool de 80o. Dá melhor rendimento por maceração com 0,5% de polissorbato 80.

Composição: Hesperidina e hesperitina.

Características: Líquido amarelo acastanhado ou amarelo esverdeado, com cheiro e sabor a casca de laranja amarga. Por acção do ar (oxigénio e, principalmente, CO2) precipita hesperidina, o que obriga a conservá-la em frasco bem vedado e cheio.

Uso: Amargo, digestivo e aromatizante.

Tintura de Eucalipto

Preparação: Pó grosso, a 20 %, em álcool de 85o.

Composição: Eucaliptol, taninos.

Características: Líquido castanho esverdeado, com cheiro a eucalipto. Precipita por adição do seu volume de água; cora de azul com a solução de cloreto férrico (taninos pirogálhicos); extracto seco: ±4 %.

Uso: Anti-séptico das vias respiratórias e expectorante na dose de 2 a 10 g por dia (pode ser perigoso por estimular o S.N.C., produzindo convulsões, em doses elevadas).

Em inalações, associada à tintura de benjoim: l colher, das de café, de cada tintura, em 200 ml de água ebuliente.

 

ALCOOLATURAS

As alcoolaturas são formas farmacêuticas que resultam da acção dissolvente e extractiva do álcool sobre as drogas vegetais frescas. Consoante a extracção é feita a frio ou à ebulição, assim se obtêm alcoolaturas ordinárias ou estabilizadas.

Preparação

As alcoolaturas ordinárias são obtidas por maceração, durante 10 dias, das drogas frescas cortadas, em álcool de 90o (em certos casos de 80 ou de 75°). A operação deve conduzir-se, como sempre, em vaso tapado e utiliza-se um álcool de graduação tão elevada pois se atende ao conteúdo aquoso das drogas frescas. A quantidade relativa entre a droga e o álcool é de 1:1 a 1:2, o que equivale à proporção estabelecida para as tinturas, já que 1000 partes de droga fresca originam cerca de 200 partes de droga seca. A extracção pode melhorar-se macerando com álcool, em presença de 0,5 % de polissorbato 80.

As alcoolaturas estabilizadas preparam-se lançando a droga cortada sobre álcool fervente, em balão a que se adapta um refrigerante de refluxo. A operação deve ser extremamente cuidadosa, para evitar projecções quando a droga é deitada sobre o álcool, e dura 40 a 60 minutos.

Formulário

Alcoolatura de Casca de Limão (F.P. IV)

Sinonímia: Tintura de casca de limão; tintura de casca de limão recente.

Preparação: Macerar, durante 10 dias, 500 g de epicarpo recente de limão em 1000g de álcool de 90°; coar espremendo e filtrar.

Nas condições indicadas pela F.P. IV obtém-se um teor em hesperidina de cerca de 40 mg por 100 ml. A maceração em presença de polissorbato 80, a 0,5 %, melhora o rendimento da extracção.

Uso: Como aromatizante em várias fórmulas.


[1] O nome tintura provém da circunstância destas formas galénicas se apresentarem coradas, pois sendo soluções extractivas contêm princípios dotados de cor (taninos, por exemplo) e vários pigmentos (clorofila, flavonas, quinonas, etc.).

[2] As drogas vegetais podem ter grande actividade (drogas heróicas, como o acónito, beladona, coca, cólquico, estrofanto, cânhamo, cantáridas, dedaleira, estramónio, ipeca, lobélia, meimendro, noz  vómica, ópio, rauvólfia, etc.) ou ser pouco activas, como o bálsamo de Tolú, arnica, açafrão, etc


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