SACARÓLEOS LÍQUIDOS
Formas farmacêuticas liquidas obtidas por dispersão molecular:
2—SACARÓLEOS LÍQUIDOS (xaropes, melitos e oximelitos).
Chamaremos
sacaróleos líquidos às
preparações farmacêuticas líquidas, cujo veículo é a água purificada (destilada
ou desmineralizada), contendo uma elevada concentração de açúcares, como a
sacarose, glucose e levulose, os quais lhes conferem propriedades edulcorantes
e conservantes. Aos sacaróleos constituídos com sacarose podem ser
adicionados outros poliálcoois, como a glicerina ou o sorbitol, para retardar a
cristalização da sacarose e aumentar a solubilidade de fármacos e adjuvantes.
XAROPES
Os
xaropes são preparações farmacêuticas aquosas, límpidas, que contêm um açúcar, como
a sacarose, em concentração próxima da saturação. Esse açúcar, além de conferir certo valor energético ao
xarope, desempenha as funções de edulcorante e de conservante.
Características
Efectivamente,
a sacarose é extremamente doce e a glucose e levulose são, também, poderosos
edulcorantes. Paralelamente obtém-se um líquido de constante die-léctrica bastante
mais baixa que a da água o que tem inegáveis vantagens em termos de dissolução de
certos fármacos.
Os
xaropes conservam-se bem
devido ao facto de serem soluções hipertónicas, já que os açúcares
constituintes se encontram numa concentração próxima da saturação, as quais
actuam como desidratantes para os microrganismos que sofrem plasmólise e se acham,
assim, inibidos de se reproduzirem.
Espécies de xaropes
Há
duas espécies de xaropes — (1)
os medicamentosos e aqueles; que apenas funcionam como (2) simples veículos para fármacos ou medicamentos, como o xarope comum ou simples, o xarope de
goma e alguns xaropes de sucos, ou outros aromatizantes.
Tanto
os xaropes medicamentosos
como os xaropes utilizados como simples veículo devem corresponder a soluções
saturadas, ou quase, de açúcares.
Preparação
As
soluções saturadas de sacarose conseguem-se
o
dissolvendo
cerca de 2/3 partes de açúcar (sacarose[1])
em 1/3 parte de água[2].
Isto corresponde, sensivelmente, a 65 g de açúcar por 35 g de água, o que equivale a uma solução
de densidade 1,32, a 15-20°C.
o
agitar até dissolver. A dissolução a quente é, geralmente à
temperatura de 80°C.
o
filtrar
e acondicionar
o
A
glucose é menos solúvel do que a sacarose, atingindo-se a saturação com 50 g
dissolvidos em 50 g de água.
Preparação a quente ou a frio?
A dissolução do açúcar para a obtenção de
um xarope pode efectuar-se a frio
ou a quente. A preparação a frio origina xarope simples menos
corado, havendo, em regra, menor hidrólise da sacarose[3]. A dissolução a frio pode
auxiliar-se por agitação constante ou intermitente do açúcar na água, sendo
corrente o uso de agitadores mecânicos.
A
preparação a quente pode levar à obtenção de xarope simples mais amarelo,
o que se deve,
principalmente, à caramelização do açúcar. Para alguns esta
transformação corresponde à hidrólise da sacarose. O
aquecimento apresenta vantagens não só no que se refere à rapidez de dissolução
do açúcar, mas também porque actua como uma esterilização e porque elimina o
anidrido carbónico que se encontre dissolvido na água, o qual é prejudicial por
facilitar a hidrólise da sacarose.
Em
face das vantagens e inconvenientes apresentados pelos dois métodos referidos, é hábito recorrer-se à preparação a frio,
sempre que se deseja um xarope incolor.
Quantidades
o
Processo a frio: 1850 g de açúcar para 1000 g de água
o
A quente: para compensar as perdas de
água, é habitual partir-se de 1650 g de açúcar para 1000 g de água, proporção
que se revela conveniente nas condições normais de obtenção do xarope a quente.
Alterações dos Xaropes
São
numerosos os factores que podem desencadear a alteração dos xaropes, passamos a
destacar alguns:
o
agentes atmosféricos (acção do oxigénio e
do anidrido carbónico);
o
aquecimento (facilita a hidrólise e a
cararnelização da sacarose; pode destruir os fármacos);
o
exposição à luz (alteração dos fármacos
por efeito das radiações ultravioleta; catálises diversas);
o
reacções internas (hidrólise da sacarose
devida a pH não adequado, com precipitação de açúcar invertido);
o
interacção dos componentes do xarope
(reacção entre os fármacos, adjuvantes e sacarose) e proliferação microbiana[4]. Os conservantes mais
vulgarmente utilizados entre nós na protecção dos xaropes são o metil e o
propilparabeno, na maioria das vezes associados em partes iguais, na
concentração final de 0,2 %.
Ensaio dos Xaropes
O
ensaio dos xaropes consiste em verificar os seus caracteres organolépticos, físicos
e químicos e em pesquisar as falsificações mais correntes.
Caracteres organolépticos
Os
xaropes devem apresentar-se límpidos, viscosos e com sabor agradável. Não devem
ter cheiro repugnante, designadamente a ácidos sulfídrico ou acético.
Caracteres físicos
As
três características físicas mais importantes dos xaropes são a viscosidade,
propriedades polarimétricas e densidade (d
= 1,32, a 15-20°C).
Caracteres químicos
Entre
as determinações químicas a efectuar num xarope conta-se a avaliação do teor de
sacarose e de açúcar invertido. Determina-se, primeiramente, a percentagem de
açúcar invertido, para o que se recorre ao método de Fehling ou suas variantes.
Hidrolisa-se, depois, a sacarose, por aquecimento de outra amostra de xarope,
em meio clorídrico, a b.a., durante l hora. A diferença de açúcares redutores
nos dois ensaios, expressa em sacarose, indica a quantidade deste açúcar.
Além
deste ensaio, comum a todos os xaropes, deve fazer-se a dosagem específica dos
princípios activos de cada xarope medicamentoso.
Falsificação
A
falsificação mais corrente é a da diminuição do teor de sacarose, facilmente
avaliada/w( via química ou poíariméírica. A determinação, da densidade pode induzir
em erro, pois certas substâncias, como a metilcelulose, podem ter densidades
idênticas à do xarope.
Formulário
Os
xaropes são formas farmacêuticas muito populares, devido ao seu gosto agradável
e à facilidade de administração às colheres. Porém é importante acentuar que
nem sempre os xaropes correspondem à melhor forma de administração de
medicamentos, pois a sacarose presente diminui a velocidade de esvaziamento
gástrico, o que pode originar uma absorção fraca dos fármacos componentes.
|
Xarope |
Obtenção: Dissolução
do açúcar em: |
Utilidade
|
|
Casca
de laranja |
Macerado
alcoólico de casca de laranja com água |
Aromatizante;
pequena actividade reguladora da permeabilidade capilar |
|
Casca
de limão |
Infuso
de casca de limão |
Estimulante
do apetite |
Xarope de Beladona
Trata-se
de um xarope que é preparado por simples mistura de tintura de beladona (5g)
com xarope comum (95 g).
Titula,
portanto, 0,0015 g de alcalóides por cento, e uma colher, das de sopa, deste xarope
corresponde a l g de tintura de beladona (dose máxima por uma só vez), A dose máxima
em 24 horas c de 3 colheres, das de sopa, de xarope.
Este
xarope é empregado como antispasmódico e sedativo, nas doses de 5-30 gramas (adultos)
c 5 gramas (crianças com idade inferior a 6 anos), divididas pelas 24horas. Deve
ser conservado em lugar fresco, ao abrigo da luz.
Xarope
de Cloridrato de Morfina
Segundo
a F.P. IV prepara-se de acordo com a fórmula
Xarope
comum ................................................99g
Água
destilada ................................................lg
Cloridrato
de morfina......................................0,05 g
Dissolver o Cloridrato na água e ajuntar o xarope comum.
O
xarope acentua a cor inicial com o tempo, tornando-se amarelado, o que se deve á
oxidação da morfina a oxidimorfina.
Xarope
de Codeína
Obtém-se,
de acordo com a F.P. IV, por dissolução de 0,2 g de codeína (metilmorfina) em 2
g de álcool e adição da solução a 98 g de xarope comum.
É
um poderoso calmante da tosse, nas doses de 20-30 g (adultos) e 2 g por ano de idade
(crianças a partir dos 5 anos), em 24 horas. Sendo a dose máxima de codeína por
uma só vez de 60 mg, e tendo o xarope uma concentração de 0,2 % deste
alcalóide, uma colher, das de sopa, corresponde a uma quantidade inferior à
dose máxima.
Acondicionamento
Os
xaropes são dispensados em frascos, geralmente de vidro, os quais sãovedados
com rolhas de cortiça, material plástico ou tampas metálicas. Neste último
caso, a tampa que se enrosca no bucal do frasco possui um vedante (corticite,
cortiça, revestida por papel impermeabilizado, polietileno, cloreto de
polivinilo, etc.).
MELITOS
Os
melitos são preparações líquidas apresentando uma consistência xaroposa, que é devida
à grande percentagem de mel que contêm, o qual se encontra dissolvido num veículo
aquoso.
Preparam-se
por dissolução do mel em água (melito simples) ou numa solução aquosa, seguindo-se
a clarificação, normalmente feita com pasta de papel, adjuvando-se ou não o processo
com adsorventes, como o caulino, o carbonato de magnésio ou o carbonato de
cálcio (fixação de vestígios de cera que pode aparecer como impureza do mel).
A
densidade dos melitos, a 15°C, é de 1,32 e à ebulição é de 1,26
Formulário
Melito
Comum (mel escumado ou mel purificado)
Esta
preparação, que corresponde a um verdadeiro xarope de mel é obtida, segundo a
F.P, IV, pelo processo seguinte:
Mel..............................................................
1000 g
Água
............................................................ 1000 g
Caulino
........................................................ 60 g
Agite
o caulino com 200 g de água; ajunte o mel dissolvido na água restante; ferva, escume
e filtre ainda quente por pasta de papel e evapore até marcar, fervendo, a densidade
de 1,26.
[1] A
sacarose é obtida, normalmente, entre nós, por extracção da cana do açúcar e
menos vezes a partir da beterraba. Trata-se de um açúcar formado por união de
uma molécula de glucose com uma de levulose, não tendo funções redutoras
livres. Na forma pura apresenta-se em cristais monoclínicos, doces e
higroscópicos. Dissolve-se na água na proporção de l g para 0,5 ml, a frio, ou
para 0,2 ml, a quente. No álcool só é solúvel na proporção de l g para 170 ml.
[2] A água
utilizada na preparação de xaropes deve ser beneficiada quer por destilação,
quer por desmineralização. Na realidade, a presença de sais (designadamente
sais de cálcio) seria indesejável pela circunstância de se originarem
precipitações dos farmacos, e um teor muito elevado de anidrido carbónico é
também prejudicial pois pode favorecer a hidrólise da sacarose.
[3] Numa
preparação a frio não se destroem as formas microrgânicas vivas existentes,
provenientes da água ou da sacarose. Assim, podem encontrar-se, em xaropes
preparados a frio, certos fungos dos géneros Penicil-lium e Aspcrgillus, além
de algas, bactérias e leveduras.
[4] Muitas
vezes a inquinação e proliferação subsequente é devida a variações térmicas a
que foi sujeito o xarope. Assim, se cm determinadas condições de armazenagem do
xarope, num frasco não estéril e fechado, se verificar certo aquecimento, parte
da água do xarope pode evaporar-se, ficando o vapor retido na zona livre do
frasco.
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