EMULSÕES
Estudo das formas farmacêuticas líquidas obtidas por dispersão mecânica.
1—EMULSÕES
A divisão de um líquido em pequenas gotículas só pode
realizar-se à custa de um intermédio, o qual terá a dupla finalidade de
facilitar a divisão propriamente dita e de manter as gotículas afastadas umas
das outras interpondo-se entre elas.
Deste modo, a divisão de um líquido implica a formação
de um sistema disperso em que a fase interna ou dispersa será, necessariamente,
representada pelo líquido dividido, podendo a fase externa ser um sólido, um
líquido ou um gás. Quando, porém, ambas as fases são líquidas, o acto de
dispersar uma na outra representa uma emulsificação e pode originar uma forma
farmacêutica denominada emulsão.
Emulsão é um sistema heterogéneo constituído por gotículas de um líquido
disseminadas no seio de um outro com ele imiscível. De forma mais rigorosa,
pode-se compreender que «Emulsão é um sistema heterogéneo constituído, pelo menos, por um líquido
imiscível intimamente disperso num outro líquido sob a forma de gotículas, cujo
diâmetro, em geral, excede 0,1μm ou inferior a
1 micrômetro (μm). Tais sistemas apresentam um mínimo de estabilidade, a qual pode ser
aumentada pela adição de certas substâncias, como agentes tensioactivos,
sólidos finamente divididos, etc.»
Vantagens
que as emulsões oferecem do ponto de vista farmacêutico
Tornam possível obter uma diluição conveniente de um
óleo num líquido não miscível com ele, resultando, por exemplo, o
desenvolvimento de fórmulas de emulsões contendo lípidos, hidratos de carbono e
vitaminas, que permitem uma alimentação adequada, por via endovenosa, de
pessoas altamente debilitadas ou que não possam alimentar-se normalmente.
Por outro lado, existem várias substâncias
medicamentosas de gosto tão desagradável que dificilmente são aceites por
qualquer paciente, cujo paladar, contudo, se torna perfeitamente aceitável
quando apresentadas sob a forma de emulsão.
Em dermatologia também as emulsões são largamente
utilizadas permitindo a formulação racional de pomadas de carácter não
gorduroso, havendo, por outro lado, factos demonstrativos de que a forma
emulsão pode aumentar a actividade de certos agentes terapêuticos quando estes
constituem a fase dispersa, o que não é de causar estranheza se pensarmos no extraordinário
aumento de superfície a que tais substâncias ficam sujeitas depois de convenientemente
emulsionadas.
TIPOS DE EMULSÕES
Só haverá emulsão quando um líquido estiver dividido
em pequeníssimos glóbulos no seio de um outro. Teremos, assim, que a fase que
se apresenta dividida constitui a fase interna, dispersa ou descontínua, ao
passo que o líquido que rodeia as gotículas da fase dispersa recebe o nome de
fase externa, dispersante ou contínua.
Além disso, em quase todas as emulsões figura um
terceiro componente, denominado agente emulsivo, o qual incorre para tomar a
emulsão mais estável, pois interpõe-se entre as fases dispersa e dispersante,
retardando, assim, a sua separação, e que constitui a interfase.
Classificamos as emulsões em dois tipos distintos, de
acordo com a natureza da respectiva fase dispersa: Emulsões óleo/água (O/A) e água/óleo (A/O)
Determinação
dos tipos de emulsões
Dado que existem dois tipos de emulsões, levanta-se
muitas vezes na prática o problema de determinar se uma preparação é do tipo
O/A ou A/O
Ensaio de diluição
Regra: Sempre que se adicione um determinado líquido a
uma emulsão e esta continue a manter-se estável, o líquido adicionado
corresponde à sua fase externa.
O ensaio de diluição de emulsão consiste em misturar
um pequeno volume desta com igual volume de água. Se a mistura se mantiver inalterada,
isto é, desde que não haja separação das fases, conclui-se que estamos em presença
de uma emulsão O/A. Do mesmo modo, se a diluição de uma emulsão com óleo
permanecer estável, isso significa que ela c do tipo A/O. Este ensaio pode ser
feito num tubo ou numa lâmina de vidro, diluindo-se, neste caso, uma gota da
preparação com uma ou duas golas de água ou de óleo e observando o resultado de
tal mistura ao microscópio. Desde que o líquido adicionado à emulsão corresponda
à sua fase externa, haverá apenas um efeito de diluição, não se registando, por
isso, separação das fases. Para maior segurança, é recomendável que a emulsão a
ensaiar seja sempre diluída com água e com óleo.
Ensaio de condulividade eléctrica
Como os óleos são maus condutores da corrente
eléctrica, esta só poderá atravessar uma emulsão quando a água representar a
sua fase contínua. De acordo com isto, se tivermos um circuito eléctrico no
qual esteja intercalada uma lâmpada e mergulharmos as duas extremidades do referido circuito na emulsão a
ensaiar, a lâmpada acenderá caso a emulsão seja do tipo O/A, mantendo-se
apagada se for do tipo A/O. Por vezes, a adição de uma pequena quantidade de um
electrólito, como o cloreto de sódio, às emulsões O/A aumenta a intensidade do fenómeno
se ela tiver sido preparada com agentes emulsivos não iónicos.
Ensaio com corantes
Tal ensaio permite a identificação do tipo a que
pertence uma emulsão pela diferente distribuição de um determinado corante
pelas duas fases que a constituem. Assim, se misturarmos um corante
hidrossolúvel corn uma emulsão e esta corar uniformemente, é evidente que a
fase contínua será, neste caso, representada pela água, e a emulsão pertencerá
ao tipo O/A. Do mesmo modo, um corante lipossolúvel que origine uma coloração
uniforme indica que a preparação será do tipo A/O.
Se este último corante apenas tingir pequenos glóbulos
dispersos num fundo não corado, isso significa, evidentemente, que a emulsão é
do tipo O/A; por outro lado, se for esse o resultado do ensaio com um corante
hidrossolúvel a emulsão é do tipo A/O.
AGENTES EMULSIVOS
Os agentes emulsivos
desempenham um papel da maior importância na emulsificação, pois não só
facilitam a obtenção da fase dispersa como concorrem, igualmente, para a sua
estabilização.
De facto, tratando-se de
substâncias que reduzem a tensão interfasial entre a água e o óleo, diminuem a
energia que é necessário despender para dispersar um líquido num outro.
Na realidade, um
dos requisitos mais
importantes a exigir de um agente emulsivo é o de ser capaz de formar
rapidamente um filme resistente à volta de cada gotícula da fase dispersa, de
modo a originar uma barreira que evite a coalescência dessas gotículas quando
contactem umas com as outras. É de notar que tal filme pode ser
representado por uma camada monomolecular, multimolecular ou por partículas
sólidas finamente divididas, características que, como é evidente, dependem da
natureza do agente emulsivo. Assim, o primeiro tipo de filme é originado pelos
agentes aniónicos, catiónicos e não iónicos sintéticos, pelo colesterol e pela
lecitina; o segundo tipo pela goma arábica e pela gelatina; finalmente, o
terceiro tipo é originado pela bentonite, seegum e hidróxido de magnésio. Além
disso, outra das características que um agente emulsivo deve ter é a de criar
nas gotículas dispersas um potencial eléctrico adequado de modo a provocar a
sua repulsão mutua.
Ora vejamos, uma
emulsão é constituída por uma fase aquosa e outra oleosa, se adicionarmos um
determinado composto a um sistema desta natureza, três hipóteses se poderão formular
quanto à sua distribuição nas referidas fases: Dissolução total na parte
aquosa, se a substância for hidrossolúvel; dissolução na camada oleosa, se for
lipossolúvel, ou distribuição pelas duas fases, se o composto tiver uma
constituição química tal que uma parte
da molécula seja solúvel na água e a outra solúvel nos óleos.
GIBBS estudou este fenómeno da absorção de uma
substância em presença de duas fases e estabeleceu o conceito de que as
moléculas dissolvidas numa ou nas duas fases podiam emigrar para a superfície
ou interfase e criou o termo “excesso de superfície”.
Este fenómeno de migração traduz as três
possibilidades de distribuição de um corpo quando adicionado a um sistema
água-óleo e depende de certas características ffsico-químicas por ele
apresentadas, as quais são determinadas, em última análise, pela sua estrutura
química.
Classificação
dos agentes emulsivos
Segundo MARTIN na obra American Pharmacy, os diversos
emulgentes podem e devem diferenciar-se em dois grupos principais:
a)
os
agentes emulsivos verdadeiros ou primários e
b)
os
estabilizantes, agentes emulsivos auxiliares ou secundários.
Os agentes emulsivos primários são todos aqueles que
actuam sobre a tensão superficial e são, por isso, os únicos que, simultaneamente,
facilitam a obtenção de uma emulsão e promovem a sua estabilização, ao passo que
os agentes secundários, porque são dotados de fracas propriedades
emulsionantes, quando utilizados separadamente, apenas se limitam a concorrer
para aumentar a estabilidade do produto por aumento da viscosidade da fase
externa, uma vez associados a um agente primário.
Os agentes emulsivos primários podem dividir-se
ainda em agentes de origem natural e agentes sintéticos, sendo
de considerar, nesta última classe, os agentes
aniónicos, catiónicos, anfólitos e não iónicos.
Exemplos. Agentes emulsivos sintéticos
Agentes de natureza química.
Aniónicos
Dioctilsulfossuccinalo
de sódio
Monoestearatode
glicerilo (Tegin) * a
...................................................... 5,5
Olealo de
trietanolamina
................................................................................
12
» »
sódio..............................................................................................
15
» » potássio
.......................................................................................
20
Sulfato de laurilo
e sódio
............................................................................ 40
(aprox.)
Catiónicos
Brometo de
cetiltrimelilamónio Etossulfato
de
N-cetil-N-etilmortblínio
(Atlas G-263) h ........................................................................................
25-30
Cloreto de
benzaleónio (cloreto de zefiran) í-
............................................ 25-30
Cloreto de
laurildimeiilben/ilamónio
Anfólitos
Trietanolaminalaurilalanina
Não ionicos
Monoleaío de
sorbitano {Span 80) b ..........................................................
4,3
Monolaurato de
sorbitano (Span 20) b
........................................................ 8,6
Monoestearaio de
polioxietileno (Mirj 45) b
.............................................. 11.1
Monolaurato de
polioxietileno (Atlas G-2127) b ........................................
12. X
Monoleato de
polioxietileno sorbitano (Tween 80) b ................................ 15,0
Monolaurato de
polioxietileno sorbitano (Tween 20) b ............................ 16.7
Monolaurato de polictilenoglicol 400 d ......................................................
13.1
Exemplo 2. Agentes emulsivos naturais (Nome,
origem, tipo)
Colesterol (Estcml encontrado na lanolina c em tecidos
animais) - A/O
Extracto de malte
(Proteínas, dextrina ) O/A
Gelatina (Po1ipépt
idos,aminoícidos) O/A
Gema de ovo
(Lecitina, colesterol, proteínas)
O/A
Goma arábica (Sais de potássio, cálcio e magnésio do ácido
arábico) O/A
Lanolina (Mistura
complexa de álcoois e ácidos gordos da lã de carneiro) A/O
Lecitina (Foslblípidos dagema de ovo e do tecido
nervoso) O/A
Saponinas (Glucósidos não azotados das raízes de
quilaia e de sénega) O/A
Exemplo 3. Agentes emulsivos auxiliares
Ácido
esteárico
Álcool
cetílieo
Álcool
estearílico
Alginato de
sódio
Bentonite
Carboximetilcelulose
Espermacete
Goma adraganta
Hidróxido
de magnésio
Metilcelulose
PREPARAÇÃO DE EMULSÕES
A preparação de
emulsões está dependente da intervenção de um factor mecânico, o qual tem por f
im dividir em pequenos glóbulos o líquido que há-de constituir a fase dispersa.
Como já atrás tivemos ocasião de referir, esta acção mecânica deve ser
completada com a presença de um agente emulsivo que actua com a dupla
finalidade de facilitar a dispersão e formar uma película disposta à volta das
gotículas dispersas, evitando, assim, a sua rápida coalescência.
Assim podemos dizer
que a obtenção de uma emulsão envolve sempre a agitação dos dois líquidos a emulsionar depois de previamente
adicionados de um ou vários cmulgentes, podendo tal agitação ser feita
manualmente ou utilizando processos mecânicos.
Agitação
manual
A agitação manual representa o método mais simples
para a obtenção de emulsões, sendo aquele que geralmente se utiliza na oficina
farmacêutica onde estas fórmulas se preparam em pequenas quantidades e se
destinam, invariavelmente, a serem consumidas em curto prazo de tempo.
Desta forma, pode obter-se facilmente uma emulsão
agitando os líquidos e o agente emulsivo num recipiente que se enche
parcialmente, como um frasco ou um balão rolhados. É da maior importância que
o vaso a utilizar nesta operação tenha uma capacidade tal que nunca fique cheio
com a mistura a emulsionar, pois é absolutamente necessário que haja espaço
suficiente para que o líquido que irá formar a fase dispersa possa esparrinhar
livremente e se fraccione em pequenas gotas. Além disso, tem-se verificado que
em muitos casos é mais vantajoso agitar a mistura intermitentemente, alterando a
agitação com períodos de repouso.
Agitação
mecânica
A agitação mecânica c o processo geralmente utilizado
sempre que se trate de preparar quantidades razoáveis destes produtos, mas,
como os agitadores existentes se adaptam a todas as condições de trabalho, é
frequente recorrer-se a este tipo de agitação na preparação de pequenas quantidades
de uma emulsão nos laboratórios farmacêuticos.
Tais aparelhos vão desde o batedor de claras de ovo,
accionado manualmente, até aos misturadores e batedores eléctricos de uso doméstico,
providos de pás dos mais variados feitios, girando a velocidades controláveis.
Homogeneizadores
A indústria fornece máquinas especialmente criadas
para aumentarem c uniformizarem o grau de divisão das partículas da fase
dispersa, as quais são designadas por homogeneizadores. Na realidade, acontece
que as emulsões, quer sejam preparadas manual ou mecanicamente, contêm sempre
glóbulos cujas dimensões estão longe de serem uniformes, e a função deste
tipo de maquinaria é a de fragmentar os glóbulos maiores, concorrendo, assim,
para reduzir os limites entre os diâmetros das gotículas da fase dispersa,
obtendo-se, com o seu emprego, uma dispersão mais homogénea, a qual se traduz
na obtenção de emulsões mais estáveis e de melhor aspecto.
ESTABILIDADE DAS
EMULSÕES
Qualquer que seja a finalidade a que se destine uma
emulsão, esta deve manter--se estável durante um prazo mais ou menos longo.
Todavia, apesar dos cuidados postos na execução de uma
fórmula destas, acontece, por vezes, que ela se altera algum tempo após a sua
preparação. Excluindo as alterações de ordem microbiana, que não interessa
considerar neste momento, podemos agrupar em três categorias essas alterações:
1) floculação e
formação de creme; 2) coalescência e separação das fases; 3) alterações físicas
e químicas diversas.
Dado que a ocorrência de qualquer destes fenómenos
modifica mais ou menos profundamente a estabilidade das emulsões, é do maior
interesse que o farmacêutico os conheça e saiba como evitá-los ou corrigi-los,
de modo a estar apto a preparar fórmulas que satisfaçam plenamente ao fim a que
se destinam.
Floculação e formação de creme
A floculação consiste na reunião de vários glóbulos da
fase dispersa em agregados ou flóculos, os quais, devido às suas maiores
dimensões, sedimentam ou sobem à superfície da emulsão mais rapidamente que as
partículas dispersas consideradas individualmente.
Cronologicamente, a primeira fase da alteração
corresponde ao aparecimento dos mencionados flóculos e só depois se observa a
formação de creme, ou seja, a agregação dos flóculos previamente originados, os
quais passam a constituir uma camada disposta à superfície ou no fundo da
emulsão.
Do ponto de vista farmacêutico, a formação desta
camada concentrada de glóbulos da fase dispersa é absolutamente reprovável,
pois as emulsões em que se tenha registado o seu aparecimento perdem o aspecto
homogéneo que normalmente as caracteriza. Desse facto resulta uma má aparência
do produto e, o que é mais grave, a possibilidade de certas substâncias
medicamentosas se concentrarem na referida camada, sendo de admitir que, em tal
circunstância, uma fracção do medicamento contenha a totalidade ou quase totalidade
de alguns princípios que nele figurem.
Deste modo, se uma emulsão em que tenha ocorrido esta
alteração se destina a ser administrada em várias porções, o doente corre o
risco de, numa delas, ingerir uma quantidade excessiva de certos fármacos desde
que a medição de cada dose não seja precedida de uma agitação conveniente.
O uso de várias substâncias, designadas por agentes
emulsivos secundários, cuja função é a de aumentar a viscosidade da fase
externa, contribui para retardar o aparecimento de creme. Os produtos
usualmente empregados como agentes espessantes, constam acima (Agentes emulsivos auxiliares). Porem, a sua utilização impõe, no entanto, a observância
de certas precauções, pois poderá acontecer que um determinado agente flocule
por acção de algum dos constituintes da emulsão e, se isso se verificar,
obter-se-á um efeito contrário ao pretendido.
Correcção: admite-se que no estado de creme as
partículas que se aglomeraram, de modo a constituírem uma emulsão concentrada,
ainda estão rodeadas por uma película de emulgente, podendo, por conseguinte,
serem novamente dispersas por simples agitação.
Coalescência
e separação das fases
Este tipo de alteração é muito mais profundo que o
anterior, pois trata-se de um processo irreversível e, como tal, uma vez
registado não mais permite a recomposição da emulsão.
No caso presente dá-se a coalescência ou reagrupamento
dos glóbulos da fase dispersa e a breve trecho a emulsão desfaz-se,
significando isto que as suas fases se separam completamente, de modo a
formarem duas camadas distintas.
Correcção: Quando tal acontece, uma nova agitação é
incapaz de tornar a dispersar as fases uma na outra, o que só é possível
obter-se se adicionarmos à mistura mais agente emulsivo.
Relação
entre o volume das fases
A relação entre o volume das fases, isto é, os volumes
relativos de água e de óleo que figurem numa emulsão pode, igualmente, exercer
uma certa influência na estabilidade da preparação. De facto, OSTWALD e outros
mostraram que, se se tentar incorporar mais de 74% de óleo numa emulsão do tipo
O/A, os glóbulos de óleo coalescem na maioria das vezes, desfazendo-se a
emulsão. Este valor, denominado ponto crítico, representa a concentração da
fase interna para além da qual um agente emulsivo é incapaz de originar uma
emulsão estável do tipo pretendido.
Acontece, no entanto, ser possível obterem-se emulsões
estáveis cm que a fase interna é superior a 74% do total da emulsão, mas tal
facto deve-se à circunstância de nesses casos as partículas dispersas se apresentarem com formas e dimensões
irregulares, só assim se compreendendo o aumento do ponto crítico, pois
este, como é sabido, foi calculado partindo da premissa de que todos os
glóbulos dispersos são esféricos.
De um modo geral, as emulsões mais estáveis
correspondem a uma relação do volume das fases de 1:1, podendo dizer-se que
a maioria destas preparações respeita tal regra, aliás descoberta empiricamente
há já muitos anos pelos primeiros preparadores de emulsões.
Inversão
das fases
Também a inversão das fases pode representar um papel
importante na estabilidade das emulsões, entendendo-se por tal fenómeno a
transformação de uma emulsão O/A em outra A/O, ou vice-versa. Do ponto de vista
prático, a inversão das fases tanto pode traduzir-se num prejuízo como num benefício,
dependendo isso do facto de ocorrer ocasionalmente ou ser provocada
intencionalmente e com determinados fins.
Assim, por exemplo, se tivermos uma emulsão O/A
estabilizada com um sabão de sódio, podemos invertê-la numa outra do tipo A/O,
por adição de cloreto de cálcio, pois nestas condições o emulgente passará a ser
um sabão de um metal bivalente.
O mesmo fenómeno de inversão poderá ser provocado
alterando a relação do volume das fases. Suponhamos que se pretendia obter
uma emulsão O/A e que misturávamos um emulgente hidrófilo com o óleo e uma
pequena quantidade de água. Uma vez que o volume de água seja pequeno em relação
ao do óleo, a agitação provocará, forçosamente, a dispersão da água no óleo,
apesar de o agente emulsivo originar, normalmente, a formação de um sistema
contrário. À medida, porém, que a primeira emulsão vai sendo gradualmente diluída
com água, chega-se a um momento em que o ponto de inversão é atingido, e desde
aí a emulsão passa a ser do tipo O/A.
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